
Natural das ilhas Comores, situadas entre Madagascar e Moçambique, Sakina M'Sa ficou conhecida por misturar moda e consciência social. Morando em Paris há mais de uma década, ela tem o apoio da prefeitura para continuar seus projetos, no bairro de Seine St Denis ou em outros lugares do mundo - como o Brasil. Convidada pela organização da SPFW, Sakina abrirá a exposição "Brasilópolis Jardim Paris", no dia 18de junho, no segundo andar da Bienal. Abaixo, confira cinco perguntas que a estilista respondeu para a MAG!:
Como foram seus primeiros passos na moda?
Sakina M’Sa – Eu andava com uma turma de amigos envolvida com música, teatro, artes plásticas. Eu já havia manifestado vontade de trabalhar com moda, mas a opinião deles era sempre desencorajadora: “Moda é uma coisa fútil e para gente rica!”. No entanto, minha ficha caiu. Para mim, através da moda eu poderia observar a política, a sociedade. Parecia que todas as artes se encaixavam nas roupas e adquiriam um sentido maior. A maneira de se vestir comunicava muitas coisas: o código social, a história de cada pessoa, de uma época. A meu ver, a roupa pode nos revelar a história do mundo. Descobri, então, que moda era vida.
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E como foi seu começo em Paris?
Sakina M’Sa – Em 1992, fui para Paris com um diploma debaixo do braço e toda minha coragem para fazer estágio num ateliê. Mas, por questões burocráticas, o estágio não se concretizou. Como não tenho tempo a perder, em vez de esperar, resolvi trabalhar no lugar onde estou morando, em Seine St Denis, considerado um “buraco quente”. Arregacei as mangas e abracei a realidade do pedaço, propondo para os 20 jovens que estão reunidos comigo de montarmos um Atelier du Tissu Social [um ateliê do tecido social]. Em meio a todas as dificuldades de trabalhar com aquelas pessoas carentes, sinto uma imensa alegria, e nós nos divertimos muito. O projeto foi um sucesso e logo fui contratada pela prefeitura para continuar.
O que vocês produzem?
Sakina M’Sa – Na época, a cultura rap ganhava força e os garotos estavam loucos por tênis e roupas de grife. Começamos a trabalhar com esse conceito e a transformar roupas comuns em roupas que tenham uma marca, uma personalidade. Na medida em que a roupa vai sendo customizada e reciclada, ela adquire uma personalidade e um estilo, a “cara” de quem a veste. Eu gosto de chamar essa oficina de “couture sociologique” [costura sociológica].
Seus desfiles de prêt-à-porter no Louvre também são especiais...
Sakina M’Sa – Sim. Eu gosto de ter pessoas da rua na passarela. É nisto que reside o desafio: resolver uma modelagem, um moulage que caia bem em qualquer um. Valorizo muito a presença dessas pessoas no meu desfile e, com meu trabalho, procuro atingir estratos mais profundos, que extrapolam o mundano, as convenções, a carapaça social. Respeitar o ser humano com um contato social verdadeiro, uma troca digna, essa é minha proposta. Acredito que a beleza sempre emana do olhar do outro.
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Como vai se desenvolver esse intercâmbio [entre Brasil e França, a ser apresentado durante a SPFW]?
Sakina M’Sa – [Sakina pega uma folha de papel e desenha dois vestidos brancos e os divide em duas partes] Uma parte do vestido vai ser montado em Paris e, depois, misturado com a metade desenvolvida em São Paulo, dando origem a uma nova peça, sempre de cor branca. As costureiras francesas vão trabalhar com técnicas como plissé e passe poil, e as brasileiras com fuxico, bordados, macramê e crochê.
A íntegra pode ser lida na MAG! Passion, nas bancas desde 17 de junho.
Ilustres visitantes. Foto: Rafael Cañas/ Ag. Fotosite
Exposição "Brasilópolis Jardim Paris"
QUANDO: de 17 a 22 de junho
ONDE: Prédio da Bienal, Parque do Ibirapuera, 2º andar
A entrada é somente para convidados do evento.