
Em Paris, trabalhou ao lado dos ícones da alta-costura, com exceção de Chanel, que preferia a silhueta esguia das nórdicas. Mas nem só de desfiles se fazia uma Top – era preciso encarar horas a fio de provas e trocas de roupas."Sentia falta da comida da minha mãe. Essa saudade invadiu a minha alma. A nostalgia dos aromas, da mandioca e do ora-pro-nóbis... Tudo me fazia pensar em Minas e em seus sabores. Onde poderia comer um pão de queijo? E a feijoada do sábado? Quiabo com carne moída... Onde encontrar? Não tinha a menor ideia. Sempre me orgulhei de ser mineira e brasileira. Os mineiros têm uma identificação forte com a sua cultura e são apaixonados por suas raízes. Temos orgulho de nossa gastronomia, de nossa literatura e poesia. Amamos nossos contos, nossas músicas e até mesmo nosso lado caipira".
Em 1977, quando estava no auge da carreira, conheceu Jean-Luc Lagardère, um dos homens mais ricos e poderosos da França, e tornou-se sua segunda esposa. O império de Lagardère compreendia nada menos que a Hachette Filipachi Médias, que publica as revistas Elle, Paris Match, Marie Claire e mais 220 títulos; a MATRA, que constrói mísseis, carros, ferrovias urbanas e sistemas aeroespaciais; o Haras d’Ouilly, que criava cavalos de corrida puro-sangue; e ainda parte considerável da EADS, empresa franco-germânica que fabrica o Airbus. Linda, rica e divertida, Bethy tornou-se o centro das atenções nas mais diversas esferas e lidava com a mesma desenvoltura com premiers, artistas e pessoas da moda. Sua elegância a fez mais conhecida. Não é sempre que dinheiro, poder e bom gosto caminham juntos, mas numa mulher como ela, tais características pareciam inseparáveis, a ponto dela ser apontada como diva até mesmo durante o Festival de Cinema de Cannes – e tudo por conta do modelito Cardin cor de cobre que vestia na ocasião. O burburinho foi saudado como entusiasmo: “Até que enfim um vestido!”. “Não sou narcisista. Mas nasci para fazer charme para um poste”, brinca.
Depois de 25 anos de um casamento idílico, em março de 2003, devido a uma complicação numa cirurgia relativamente simples, Jean-Luc faleceu subitamente, deixando uma fortuna de € 320 milhões. A exuberante locomotiva, acostumada a um mundo de viagens, almoços, jantares, estreias e festas, descarrilou. Bethy por pouco não abandonou à cena. Nessa fase, contou com o apoio de Nicole Wisniak, editora da lendária Egoïste, que havia perdido o marido e seu fotógrafo principal, Richard Avedon, no mesmo ano, e de outra grande amiga, Leila Menchari, a talentosa designer das vitrines da Hermès desde 1977. Para cuidar de sua tristeza, fechou as portas da casa em Paris e mudou-se para Tanger, no Marrocos. Por dois anos, cultivou um jardim, chegando a plantar 2 mil pés de hortênsias azuis por dia. “Achei que se pudesse cultivar a terra, e foi o que fiz esse tempo todo.”
O resultado é um jardim de sonhos, do qual ela tem verdadeiro orgulho. “Alguma coisa você tem que deixar, como uma marca feita em algum lugar e com prazer.” Nessa época, a mecha branca no cabelo, que resolveu deixar crescer em homenagem à memória do marido, tornou-se um registro de sua personalidade. Recuperada pelas flores, depois de fechar o inventário e se desvencilhar de toda e qualquer ligação com os negócios do marido, que atualmente são comandados por Arnaud Lagardère, filho do primeiro casamento de Jean-Luc, Bethy sentiu falta de outra terra: a sua. Comprometida com as luzes do espetáculo, Bethy Lagardère é a homenageada desta edição do São Paulo Fashion Week, que lhe dedicou a produção de um documentário inédito (“Bonjour Madame”) e a montagem da mostra que reúne peças garimpadas diretamente no seu closet. O zum-zum-zum rendeu ainda uma edição especial da MAG! Passion.
Fonte: site oficial SPFW
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